sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Dessa vez foi demais


do RS Urgente:


"Ando para frente e não olho para trás"



Já se tornou uma máxima do discurso político pasteurizado e embalado por marqueteiros dizer que o negócio é seguir em frente e não olhar para trás. O pressuposto é que essa idéia seja do agrado do senso comum e da média dos eleitores, que teriam uma alergia crônica em relação ao passado e à memória. A candidata à prefeitura de Porto Alegre, Manuela D’Ávila (PCdoB), repete essa ladainha em entrevista hoje ao jornal Zero Hora. Indagada sobre a presença de aliados políticos do ex-governador Antônio Britto em sua chapa, a candidata afirmou: “Eu vivo em 2008, ando para frente e não olho para trás”. Foi mais longe e emendou: “Quando o PMDB governou o Estado (1995-1998) eu ainda não votava”.

É constrangedor ver esses "argumentos” serem proferidos por representantes de partidos de esquerda. O desprezo pelo passado e pela memória, diga-se a bem da verdade, é uma praga que viceja hoje em vários partidos (inclusive o PT). Em nome do pragmatismo eleitoral mais rastaquera, repete-se essa tolice como se fosse uma pérola de sabedoria. O que, afinal de contas, significa dizer, com orgulho: “eu não olho para trás”? Pior ainda, o que significa para alguém de esquerda dizer isso? Entre outras coisas, significa desprezo pela memória, pelo passado e pela história. Apresentar a idéia de “seguir na vida sem olhar para trás” como uma espécie de filosofia de vida e de regra de conduta política é algo muito menos inocente do pode parecer. Quem vive só olhando para frente e não olhando para trás não tem compromisso com a experiência e com a história, apenas com o próprio umbigo.

O PC do B pode justificar a aliança com o PPS em Porto Alegre com argumentos menos constrangedores. Basta dizer (como vem fazendo em alguns momentos) que o PT faz alianças com o mesmo partido em outros lugares. Não precisa jogar a memória na lata do lixo. Na verdade, é um argumento igualmente frágil, pois está baseado na idéia de que um erro justifica outro, mas, ao menos, revela alguma consideração pela história. O PT já cometeu muitos erros em sua história. Um deles foi namorar com a máxima que prega: “para derrotar o inimigo é preciso usar suas próprias armas”. O problema da aplicação desta máxima é que, quando se usa as mesmas táticas e práticas do inimigo, corre-se o sério risco de ficar parecido com o adversário. Essa história é bem conhecida. Seus resultados também.

Com todo o respeito que merece, Manuela D´Ávila poderia aplicar ao seu próprio discurso sua proposta de “Diálogo de Gerações”, que prega o respeito e a valorização da experiência e do passado como uma condição necessária para olhar o presente e o futuro.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

A “cantilena enfadonha” de certa “oposição de esquerda”



A “cantilena enfadonha” de certa “oposição de esquerda”

A pequena representação pública do que se pretende firmar como uma oposição de esquerda ao governo Lula (e às maiorias parlamentares) tem nas acusações de corrupção sua marca mais visível. Não resta dúvida de que, por exemplo, a representação formal contra o presidente do Senado no Conselho de Ética cumpriu um papel positivo de permitir melhores condições para a continuidade das investigações. O “abafa” que chegara a se desenhar se tornou menos sustentável. O problema não está em discutir se se deve ou não representar contra um presidente do Congresso nestas circunstâncias. O problema está em saber qual é o centro da atividade pública “mudancista” no Brasil de hoje; em saber o que é importante ser feito para disputar as consciências e o movimento real das/os trabalhadoras/es e oprimidas/os.

Desde o início de 2007, é possível suspeitar que alguns debates absolutamente decisivos tenham sido colocados em pauta pela ação governativa. Um deles acerca do veto à chamada “emenda 3”, ação pela qual se manteve a possibilidade de atuação fiscalizadora do Estado sobre as fraudes precarizantes das relações trabalhistas que tanto avançaram nas últimas décadas. O veto sofreu oposição não apenas da representação política de direita, como de setores significativos da burguesia. E por uma boa razão: diz respeito a um elemento-quadro (normativo) das relações de classe. Evidentemente, não “resolveu” a marcha da precarização, mas foi importante.

Um segundo debate diz respeito à criação das fundações. Em uma medida importante, parece a proposta ressuscitar a proposta de reforma administrativa de Bresser e implica num avanço potencial de privatização do Estado. Do mesmo modo, esteve em pauta um debate de fundo, com fortes cores ideológicas, sobre tributação. Mais recentemente, foi colocado em pauta (sobretudo por setores sindicais classificáveis como “governistas”) a extraordinariamente importante questão da redução da jornada de trabalho sem redução de salário, bandeira “ofensiva” e geral que há muito não tinha espaço na vida social brasileira. Do outro lado, os setores mais reacionários e vinculados ao “velho” latifúndio se insurgem contra os poderes constituídos e fazem pouco das leis se estas não são feitas ou executadas à sua imagem e semelhança.

São alguns exemplos que dizem respeito às próprias bases do terreno no qual se dá a atuação da política de esquerda: quadro jurídico das relações de classe e relação entre Estado e setor privado, respectivamente. Não terão sido estas as questões centrais para o debate e a intervenção de esquerda neste período? Não merecem esses temas ser devidamente compreendidos e qualificadamente enfrentados? As posições da direita não teriam que ter sido enfrentadas por toda a esquerda (governista, independente ou oposicionista)? É razoável, no quadro tão específico como o que temos, sobrepor absolutamente, como faz de fato o PSOL, o antagonismo governo/oposição aos antagonismos conservadorismo/mudanças progressivas, direita/esquerda, latifúndio assassino/Estado de Direito? Só é razoável se a construção de uma marca eleitoral visível for mais importante que a luta pela vida, pela dignidade dos ninguéns e pela manutenção do caminho fechado à barbárie e aberto às transformações. A “overdose” de História precisa ser evitada, mas não custa lembrar que houve um dia em que os socialistas consideraram que seu pior inimigo era a social-democracia (e não o fascismo) e houve um dia seguinte em que os debates nem puderam prosseguir. Os socialistas de hoje não têm o mesmo peso, mas deveriam ter tirado mais lições.

No entanto, apesar de tudo isso, a “questão moral” assume todo ou quase todo o espaço dos discursos da oposição de esquerda. No último ano, o “Fora Renan” foi adotado como prioridade absoluta de um setor da esquerda, como se não fosse certo que ele seria substituído por alguém de qualidade política similar. Há já alguns anos em permanente campanha presidencial, talvez pensando que possa reproduzir a trajetória de seu antigo líder, a presidente do PSOL repisa, em tonalidade aguda e à exaustão, palavras acusatórias de corrupção ao governo e sua base. E depois? E mais? E que contribuições para a construção de caminhos de mudança? A “cantilena enfadonha” do discurso acusatório estará alimentando que tipo de compreensão nas “massas”? E que tipo de movimento real precisamos fazer?


Elídio Marques é professor e integrante do grupo que impulsiona o sítio barlavento
Para ler a íntegra do texto, acesse.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Viúva de Paulo Freire escreve carta de repúdio à Veja



Já leram? Segue abaixo.
À propósito, dentre tantas verdades, a Sra Nita diz uma que é essencial: Paulo Freire Vive!


"Como educadora, historiadora, ex-professora da PUC e da Cátedra Paulo Freire e viúva do maior educador brasileiro PAULO FREIRE -- e um dos maiores de toda a história da humanidade --, quero registrar minha mais profunda indignação e repúdio ao tipo de jornalismo, que, a cada semana a revista VEJA oferece às pessoas ingênuas ou mal intencionadas de nosso país. Não a leio por princípio, mas ouço comentários sobre sua postura danosa através do jornalismo crítico. Não proclama sua opção em favor dos poderosos e endinheirados da direita, mas , camufladamente, age em nome do reacionarismo desta.

Esta vem sendo a constante desta revista desde longa data: enodoar pessoas as quais todos nós brasileiros deveríamos nos orgulhar. Paulo, que dedicou seus 75 anos de vida lutando por um Brasil melhor, mais bonito e mais justo, não é o único alvo deles. Nem esta é a primeira vez que o atacam. Quando da morte de meu marido, em 1997, o obituário da revista em questão não lamentou a sua morte, como fizeram todos os outros órgãos da imprensa escrita, falada e televisiva do mundo, apenas reproduziu parte de críticas anteriores a ele feitas.

A matéria publicada no n. 2074, de 20/08/08, conta, lamentavelmente com o apoio do filósofo Roberto Romano que escreve sobre ética, certamente em favor da ética do mercado, contra a ética da vida criada por Paulo. Esta não é, aliás, sua primeira investida sobre alguém que é conhecido no mundo por sua conduta ética verdadeiramente humanista.

Inadmissivelmente, a matéria é elaborada por duas mulheres, que, certamente para se sentirem e serem parceiras do "filósofo" e aceitas pelos neoliberais desvirtuam o papel do feminino na sociedade brasileira atual. Com linguagem grosseira, rasteira e irresponsável, elas se filiam à mesma linha de opção política do primeiro, falam em favor da ética do mercado, que tem como premissa miserabilizar os mais pobres e os mais fracos do mundo, embora para desgosto deles, estamos conseguindo, no Brasil, superar esse sonho macabro reacionário.

Superação realizada não só pela política federal de extinção da pobreza, mas , sobretudo pelo trabalho de meu marido – na qual esta política de distribuição da renda se baseou - que demonstrou ao mundo que todos e todas somos sujeitos da história e não apenas objeto dela. Nas 12 páginas, nas quais proliferam um civismo às avessas e a má apreensão da realidade, os participantes e as autoras da matéria dão continuidade às práticas autoritárias, fascistas, retrógradas da cata às bruxas dos anos 50 e da ótica de subversão encontrada em todo ato humanista no nefasto período da Ditadura Militar.

Para satisfazer parte da elite inescrupulosa e de uma classe média brasileira medíocre que tem a Veja como seu "Norte" e "Bíblia", esta matéria revela quase tão somente temerem as idéias de um homem humilde, que conheceu a fome dos nordestinos, e que na sua altivez e dignidade restaurou a esperança no Brasil. Apavorada com o que Paulo plantou, com sacrifício e inteligência, a Veja quer torná-lo insignificante e os e as que a fazem vendendo a sua força de trabalho, pensam que podem a qualquer custo, eliminar do espaço escolar o que há de mais importante na educação das crianças, jovens e adultos: o pensar e a formação da cidadania de todas as pessoas de nosso país, independentemente de sua classe social, etnia, gênero, idade ou religião.

Querendo diminuí-lo e ofendê-lo, contraditoriamente a revista Veja nos dá o direito de concluir que os pais, alunos e educadores escutaram a voz de Paulo, a validando e praticando. Portanto, a sociedade brasileira está no caminho certo para a construção da autêntica democracia. Querendo diminuí-lo e ofendê-lo, contraditoriamente a revista Veja nos dá o direito de proclamar que Paulo Freire Vive!

São Paulo, 11 de setembro de 2008
Ana Maria Araújo Freire".

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Pochmann em POA


Boa opção para hoje à noite. É organizado pelos bancários e aberto ao público em geral. Ó:


Marcio Pochmann participa de debate sobre desafios do desenvolvimento nesta terça


A Federação dos Bancários RS promove nesta terça-feira, dia 9, um painel seguido de debate sobre Desafios do Desenvolvimento no Brasil. A atividade, dirigida a bancários, sindicalistas e público em geral, contará com a participação do economista, professor e presidente do Ipea, Marcio Pochmann. As inscrições para o evento serão feitas gratuitamente no Hotel Embaixador, onde ocorre o evento a partir das 19 horas.